terça-feira, 18 de maio de 2010

Performance

Ela retira do armário o lençol. Dele se despregam memórias variadas de um "a dois". Era tarde de sexta feira quando elas entraram no quarto do casal, portando flores, incensos, vinho e pães e um lençol. A mais velha toma dela o lençol e se põe a arrumar a cama. Era uma iniciação. uma mulher adulta. Era um ritual.
[...]

Sob o tecido muitas estórias foram escritas ao longo dos anos, as bainhas puidas pelo tempo e a máquina de lavar roupas, as marcas garantindo que uma vida se fez sob ele.

Início e fim. sob um lençol branco o cinza de um "e".

Ela bateu o lençol, sacudiu suas marcas, era ele, era com ele que dançaria. Era dele que se despedia.
Lençol e tesouras e fitas e linhas e outras mulheres. Lençol que faz nascer, que faz morrer. Lençol de embalar, de cobrir, de quarar a vida.

Em sua face superior escrevera: O que estás deixando de ser?
na inferior:O que estás te tornando?

Entoou uma ladainha, cantou pros mortos, dançou nos braços de ninguém, navegou no fora do tempo.Com outras mulheres, dançou. pintou, marcou o tecido. Fez roupa nova.

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